Tuesday, June 12, 2007


HAMPTONS

A dada altura, e por mais snobe que pareça, Nova Iorque não basta.
À chegada queremos consumir toda a energia da cidade mas a verdade é que quem nos suga o corpo, a alma e a carteira é New York. NY é uma cidade muito caprichosa…Quer o mundo inteiro concentrado em si.
A partir de Maio, começamos a sentir outros fenómenos para além do vício pela Maçã:
a pele satura com o bafo quotidiano do metro, as pernas tornam-se preguiçosas para andar quarteirões ao sabor dos já muitos graus Fharenheit e a cabeça começa a pensar em paraísos à beira mar. E em Lisboa tem-se a Costa ou o Guincho tão à mão…

Sair de NY não significa pôr de lado a excentricidade, o charme ou a originalidade.
Pegamos numa mala de fim-de-semana (que poderá já ter algumas roupas de recentes colecções do Bloomingdale's, do Sak's ou do Bergdorf Goodman), passamos por um deli para comprar sandes de tomate, mozzarella e pesto e entramos num Mustang encarnado descapotável, alugado num Rent-a-Car de West Village.
A viagem é feita no lusco-fusco de uma sexta-feira. Destino Hamptons!

Toda a gente tem curiosidade pelos Hamptons. Não vale a pena dizer que não faz o género… O imaginário dado pelos filmes ou mesmo pelos episódios do “Sex and the City” acenam-nos para longos areais atlânticos, lagos verdejantes, lagostas com champanhe e vislumbre de celebridades.
Independentemente de se seguir à risca as dicas dadas pelos actores de filmes ou de séries americanas, merece a pena um passeio à colónia de férias nova-iorquina que tem tanto de belo como de pretensioso.


Sábado

Acordámos de manhãzinha com vozes lá fora. Uns surfistas aproveitavam já as primeiras ondas da manhã. Abrimos a janela e uma brisa do mar invade o quarto. Uns quantos quarentões vestem os fatos de surf para enfrentarem a água gelada da Dich Plain Beach.
O quarto feito de madeira fica para trás enquanto avançamos pelo terraço do motel que nos leva até à praia. O “East Deck Motel” está plantado à beira da areia e encaixa na perfeição na cena de um filme dos anos 50.
O areal da praia de Dich Plain recebe pintores, fotógrafos, leitores e pescadores. A água está fria mas o dia está perfeito para banhos de sol, jogging e conversas na areia.

Montauk, onde fica o “East Deck Motel”, é uma localidade tipicamente americana – rua principal, drugstore, diners e pubs de um lado e do outro, bomba de gasolina, posto de turismo, uns quantos motéis e pouco mais. Não tem nada de interessante mas acaba por ser simpática dada a sua simplicidade e pacatez. Tem no ar um ambiente ultrapassado de certa província, o oposto de outras zonas mais sofisticadas dos Hamptons.

Fomos tomar o pequeno-almoço a um diner – o Plaza Restaurant. O ambiente da casa e frequência acenam para uma refeição bem calórica. Acabámos por seguir o menu virtual que médicos e sociedade civil fazem circular nos dias que correm – comer saudavelmente, não ter vida sedentária, etc., etc. e etc.
Fora de Nova Iorque vêem-se com frequência os enormes corpos fatigados do peso de que as notícias tanto lamentam, mas basta reparar nos menus e nas pessoas que nos rodeiam… Ficamos espantados com o volume das pessoas, com a dimensão das doses e com o que comem logo pela manhã – ovos, batatas fritas, bacon, regados com quantidades astronómicas de molhos de cocktail, mostarda e ketchup… Mas as famílias regalam-se com um ar tão feliz que são-lhes dadas todas as indulgências: trabalhámos durante a semana, é dia de descanso e de convívio familiar, celebremos com colesterol e gorduras saturadas!

Passámos pelo turismo a pedir informações. Porto, docas e farol de Montauk a não perder. Pensámos em alugar bicicletas mas tínhamos o nosso Mustang encarnado à nossa disposição. Afinal estávamos nos Hamptons e o mínimo era movermo-nos num descapotável!

Andar de descapotável dá-nos uma sensação de liberdade. Sentimos o sol na pele, os cabelos dançam com o vento e, de repente, somos uns miúdos à descoberta de uma praia secreta.
Seguimos em direcção a Sag Harbor.
A paisagem não podia ser mais luxuriante. Extensões de campos verdes, lagos aqui e ali, árvores em flor, canteiros impecavelmente arranjados e casas primorosamente conservadas. Tudo parece novo, acabado de construir e acabado de plantar. Nada está fora do sítio. A passarada parece ser a mais feliz de todos os países e a população a mais orgulhosa do seu sítio.


Dos Hamptons fazem parte as cidades de Bridgehampton, East Hampton, Southampton, Amagansett e Sag Harbor, uma vila calma e simpática que em tempos se dedicou à pesca da baleia.
Chegados a Sag Harbor procurávamos uma esplanada onde pudéssemos almoçar. Virámos as costas a um self-service vegetariano, snobámos o restaurante da marina e demos de caras com o “Dock House Restaurant”, um despretensioso café, manjedoura ou o que for, que serve sopas, pratos, saladas e sandes só à base de peixe e marisco. A espreitar a doca, está um balcão corrido onde as pessoas podem sentar-se a (verdadeiramente) deliciar-se com a refeição. Enquanto esperávamos pela lagosta e filete de salmão grelhado, comemos uma Clam Chowder, espécie de creme de marisco, cuja receita leva batata, cebola, alho, aipo, bacon, natas e uma mistura de moluscos. É servida com uns quantos torrões. Óptima!
Apesar da “matéria-prima” ser supostamente para refeições mais sofisticadas, o “Dock House” cozinha o marisco, peixe e moluscos de forma despachada mas saborosa, daí que se possa encomendar para fora uma lagosta para duas pessoas.
Chamaram o número da nossa senha. Pegámos no saco de papel reciclado e fomos almoçar para praia incerta!

A Norte de Sag Harbor apanhámos o ferry para Shelter Island. Tudo aqui é literalmente verde. Os campos são ainda mais imponentes embora as casas não sejam tão elaboradas ou tão apalaçadas como em East ou Southhampton.
Um pormenor mantém-se – Maseratis, Porsches, Ferraris, clássicos Mercedes cabriolets, Triunph Sptifires e outras relíquias do mercado automobilístico passeiam-se com ar glorioso pelas estradas dos Hamptons. Nós estávamos safos – tínhamos pelo menos um Mustang encarnado e ainda por cima descapotável!
Seguimos as indicações para a Down Shore Road e encontrámos o nosso lugar ao sol na Sunset Beach. Da ilha, talvez seja a zona mais descontraída e menos “barroca”. Aqui fica um outro motel com o mesmo nome cujo bar convida a beber um copo ao pôr-do-sol.

Assistir à passerelle no fim do dia em East Hampton é uma experiência sociológica. Manhattan está nos Hamptons a partir do “Memorial Day” (dia 28 de Maio) e, portanto, mesmo que se tenha saído de NY para descansar da cidade, nunca se se livra dos seus vícios e virtudes.
Bronzeados, cheirosos e fashionably dressed, os nova-iorquinos calcorreiam as lojas ainda abertas (é claro que as grandes marcas têm sucursal nos Hamptos!), tomam um cocktail colorido e ligeiramente alcoólico e petiscam os novos sabores frescos do Verão.
Quando se fala de férias nos “Hamptons” estão implícitos alguns códigos e determinados estilos de vida – tem que se ser bem sucedido (i.e. ter dinheiro ou amigos que o levem até lá) e encaixar num cenário minuciosamente estudado e elegante, pelo menos…
Como não estávamos de “acordo com o ambiente da casa” voltámos a Montauk para ver o pôr-do-sol e jantar uma bela caldeirada de peixe no “Dave’s”. Como não tínhamos feito reserva entretemo-nos no bar com vinho do “Novo Mundo”. Que saudades do vinho português…
Domingo

A intensidade dos raios de sol a entrar pela textura do tecido das cortinas deu-nos um acordar bem disposto.
Das duas casas de panquecas escolhemos a Anthony’s Pancake House para tomar o pequeno-almoço. Ao ver a ementa tivemos dificuldade em escolher. Panquecas com maple syrup, bagels com cream cheese, ovos com torradas ou french toast … Fizemos jus ao nome da casa e pedimos panquecas integrais com fruta, acompanhadas do clássico regular coffee (um “balde” de café com natas e açúcar).

A paisagem até ao Farol de Montauk é maravilhosa. Uns arbustos enrodilhados acompanham a estrada, avista-se o mar de quando em vez e, saudavelmente, alguns matutinos andam de bicicleta.
A praia ainda está deserta e ao passear tropeçamos em milhões de estrelas-do-mar já secas. Parecem-nos tão perfeitas que tentamos não pisar, em vão…

Neste país o património está tão bem conservado que talvez seja por isso que tudo tem um preço – pagáramos seis dólares para estacionar o carro, e pagaríamos o dobro para visitar o farol mas ficámo-nos por uma vista mais rasteira. Não tivemos a sorte de ver focas, o que pode acontecer, disse-nos alguém.

Espreguiçámo-nos pela praia comprida até à altura de nos pormos a caminho de NY.
Paragem obrigatória no “Clam Bar”, à saída de Montauk. Lagostas, clam chowder, camarões, etc. e etc. mas fomos para o mais básico – Hot Dogs (e ops!) com batatas fritas… e cerveja (opsss)!!!

Nova Iorque chama-nos de volta a casa.