Friday, October 3, 2008

Wednesday, October 1, 2008

GOODBYE NOVA IORQUE - LISBOA À VISTA


Estou homeless... 
Ontem foi o último dia no 666 Greenwich Street.  A partir de sábado resta-me o 66 da Rua da Misericória, em Lisboa. 
A casa ficou vazia, vazia e branca imaculada como o senhorio exigia. Os restos das mercearias demos aos porteiros e o aspirador que não conseguimos vender no Craig's List oferecemos à Tina, a nossa "housekeeper" portuguesa que tão bem tratou das camisas do Filipe...
Fomos afogar as mágoas para a cama fofa e gigante do hotel em Gramercy Park.










Queimo os últimos cartuxos em Nova Iorque. Tenho um nó permanente na garganta por ter que deixar a Big Apple e a ansiedade pelo que vou encontrar em Lisboa aperta-me o coração.
Que venha mais uma aventura apesar da suadade imensa que vou ter "disto" tudo.
A Benedita, minha afilhada, nasceu hoje. 
Começa outro ciclo da Vida!

Ando aos bordos, de poiso em poiso. Vou tomar o pequeno almoço ao Le Pain Quotidien, abrigo-me no Bryant Park ou vou trabalhar para o Madison Square Garden, almoço saladas de pacote do Pret a Manger e vou picando o ponto no Starbucks para mais um "solo expresso".
Leio o que está a acontecer até 3 de Outubro, o derradeiro dia, e tento encaixar os programas no pouco tempo que temos. É escusado... Mais vale andar por aí a saborear as ruas e olhar pessoas que não vou encontrar facilmente na "nação valente e imortal".



Saturday, September 13, 2008


PRETZELS, NUTS AND FALAFELS

Das primeiras coisas que notei mal cheguei a Nova Iorque foi o cheiro nas ruas. Mais do que em qualquer outro lugar onde estive - não que sejam muitos - nesta cidade sentem-se cheiros tão específicos que acabam por fazer parte da sua identidade. 
Independentemente da zona de NY e da estação do ano, há sempre o cheiro a torrada queimada das pretzels, o cheiro adocicado das amêndoas caramelizadas e o aroma a especiarias das falafels. 
Fiquei fascinada com estes três "snacks" porque qualquer um deles sublinha o lado prático e suburbano de Manhattan vs o perfil sofisticado e inacessível da ilha - quantas vezes não entrei no Saks Fifth Avenue a tresandar a torrada queimada e quantas vezes o hall do Bloomingdales em Downtonw não é perfumado com os ditos aromas do Oriente?

Até nisto Manhattan mistura o Ocidente e Oriente - emigrantes alemães trouxeram as pretzels e os do Médio Oriente trouxeram as falafels. Quanto aos cajus, amendoins e amêndoas caramelizadas não faço ideia mas agradam a gregos e a troianos.
Provei todos eles. As pretzels embuxam um tanto ou quanto, as amêndoas são um óptimo snack quando se precisa de açucar e as falafels batem aos pontos quanquer hot dog, a meu ver pequeno e pouco substancial.

Não sei é se gosto dos cheiros isoladamente. Qualquer um deles é enjoativo mas se sentido "porque estamos em NY e faz parte" acabamos por nos habituar - ou não fosse NY uma cidade que se permite a tudo e em que as pessoas aceitam tudo o que ela impõe.


Thursday, July 10, 2008

JUST BECAUSE WE'RE GAY...















... foi o que ouvi depois de mais um clique na minha máquina fotográfica. Depreendi que alguns dos gays que festejavam na Gay Parade não estavam muito satisfeitos com o assedio fotográfico.
Bom, verdade seja dita que era inevitável – ou porque os próprios gays pousavam para as objectivas sem que se lhes pedisse ou porque era mesmo para isso que a parada servia – mostrarem-se tal como são e viverem um dia em total liberdade de movimentos.
“There will always be a march until the day we have the same rights” - foi o que disse a anfitriã da parada. 
No que me toca, eu estava realmente interessada em ver a parada e tentar perceber o fenómeno. É pena que tenha que ser um evento tão teatral e carnavalesco para que o dito desejo possa eventualmente realizar-se.

Procurei que as minhas notas não fossem tão obvias – a parada é bem mais flamboyant do que aqui se mostra. Interessava-me mais observar "à roda" do que focar nas personagens.

foto

Wednesday, July 9, 2008

I LOVE NEW YORK

I love...

... os diners fluorescentes excepto a comida
... ser obrigada e olhar para a diferença com indiferença
... o humor de elevador dos nova-iorquinos
... o encontro de pessoas de todo o mundo numa

 só cidade
... a comida afegã, tailandesa, grega, ucraniana e a do resto do mundo no virar da esquina
... mandar um e-mail e saber que vou ter sempre uma resposta - e rápida
... os cursos de tudo e de nada e os seus professores dedicados
... a energia, vaidade, magia, vício, criatividade, vanguardismo da cidade
... os piropos de rua – “hot jacket!”, “I love your bag, where did you buy it?”
... o empenho dos americanos nas coisas que fazem
... a eficiência dos serviços de internet
... ler as “reviews” antes de comprar o que quer que seja
... o respeito pela palavra do cliente
... o “welcome”, did you find everything O.K.?, “Have a nice day” e o "Stay warm" ou cold conforme o Inverno ou o Verão
... as cerejeiras em flôr na Primavera
... não ter que guiar
... encontrar experts em tudo e mais alguma coisa... os serviços de entrega em casa
... as minhas aulas de pilates no ginásio do prédio
... o Mandy’s que me arranjou os estágios
... os ténis e a informalidade
... a tolerância entre as pessoas
... a diversidade das pessoas na rua e nunca deixar de me espantar com isso
... a reinvenção e renascimento permanente da cidade
... o New York Times, a New York Magazine e a New Yorker
... o Netflix - posso receber em casa 3 filmes de cada vez
... dar os meus dados do cartão e ter a certeza de que não vou ser enganada
... a minha carteira Cole Haan e os meus ténis prateados da Nike
... a excitação continua e a boa disposição dos nova-iorquinos
... as baggles da Hudson Street, as waffles com mapple syrup e as amêndoas caramelizadas compradas na rua (que só não como mais porque engordam)
... conhecer pessoas novas e convidá-las para jantar duas semanas depois
... blueberry muffins que são maiores do que os queques portugueses
... a monstruosa livraria Barnes & Noble cujos corredores e cantinhos estão animados por pessoas sentadas a folhear livros e revistas
... as promoções durante o ano inteiro... a democracia das ruas de Nova Iorque: Norte-Sul, Este-Oeste, avenidas paralelas e ruas transversais, muitos números e poucas nomes
... o salmon burger do BLT Burger
... os museus sempre vivos
... o sentido construtivo e pedagógico omnipresente
... os cartões de fidelização de tudo e de nada
... ter sempre sítios novos para descobrir
... a Little India em Queens, a Little Italy no Bronx e Red Hook em Brooklyn – mas minha querida Manhattan!
... ter perdido a minha "virgindade" nesta cidade
... o tall late no Inverno e o sume de maçã e gengibre no Verão
... pintar as unhas nos Nails Spas... viver em West Village
... os copões de desconto para detergentes e musicais
... o Sacks mas prefiro o Bloomingdales porque não tenho dinheiro para o Barneys ou Bergdorf Goodman
... a valorização pela qualidade e mérito das pessoas
... a West Street e o rio Hudson
... os extremos, antípodas, contradições e os polos +/- da Maçã
... as bancas de flores por toda a cidade
... a capacidade de acolher as pessoas principalmente aquelas que querem acrescentar valor à vida e à cidade
... as luzes de Times Square
... pensar que nunca fui turista em Nova Iorque
... que não se fume nos espaços fechados
... as kebabs nos carros ambulantes
... os depósitos de àgua no topo dos prédios
... a sensação de viver numa cidade única... a minha Kitchen Aid cor de laranja onde faço uns magníficos biscotti com cranberries
... ir ao Chelsea Market para comprar os legumes da semana e beber o melhor Capuccino de sempre
... ter sempre restaurantes novos para experimentar
... as catadupas de eventos a acontecer
... as personalidades tão diferentes de cada bairro
... viver em Nova Iorque.











But I hate...

... ter que dar gorjetas por tudo e por nada
... o cheiro pestilento a chichi de cão nos cantos do prédio
... ter que reservar um restaurante com um mês de antecedência
... as máquinas de lavar comunitárias que lavam mal a roupa e as secadoras que estragam até os algodões mais fortes
... ter tantas opções e não conseguir experimentar /ver /provar /apreciar /tocar /vestir /ouvir /ler todas
... que as cozinhas não tenham exaustores
... que a cidade seja tão cara e de o Dólar estar tão baixo
... o calor húmido no verão
... as sirenes histéricas dos bombeiros
... odiava musicais mas passei a adorar
... a condução dos taxistas
... os corredores dos prédios que parecem hospitais ou prisões
... que os americanos sejam tão respeitadores das regras e pouco desenrascados
... o super-mercado D’Agostino que é caro para burro

... ter que andar de metro no Verão

... não ter carro quando tenho que carregar as compras

... o barulho do ar condicionado da minha casa
... não ter mais janelas em casa
... o trânsito parado
... pensar que estou numa ilha com milhões de pessoas e que se acontece alguma coisa não tenho grande margem de manobra
... a falta de sinceridade dos americanos e o excesso de diplomacia nas palavras
... a Cristopher Street no Verão
... a dificuldade em combinar qualquer coisa à última hora
... as vozes histéricas das americanas já com os copos
... não ter praia a 15 minutos de casa
... as temperaturas negativas do Inverno e o vento cortante ao cruzar uma avenida
... o ar condicionado dos cinemas no Verão - cá fora morremos de calor e dentro da sala morremos de frio
... o facto do vinho ser tão caro
... o cheiro que sai dos ventiladores das cadeias de junk food
... chegar à sexta feira e bater com o nariz na porta do cinema - a lotação está esgotada e eu não comprei o bilhete antecipadamente...
... passar pelas multidões em Times Square
... os magotes de turistas
... a imaturidade nas relações entre homem e mulher
... pensar que um dia me vou embora...

Wednesday, June 25, 2008

SINGULARIDADES DE UM DIA EM NOVA IORQUE

Deito-me por volta da meia noite, e se é Verão, abro a porta da minha mesa de cabeceira e ponho os tampões nos ouvidos antes de me deitar. É sexta-feira e portanto os “Bridge and Tunnel” vieram passear-se à cidade. Ouço-lhes as conversas destorcidas “em alta voz” depois de umas goladas de álcool num bar algures. Passam na rua em direcção ao Path que os levará de volta a New Jersey. Ide, ide. Remato o principio do sono com a almofada em cima da cabeça e, embora irritada, acho que até dos gays e travestis da minha rua terei saudades. São também eles que provocam as minhas furias de sexta e sábado à noite quando tento adormecer e não consigo por causa dos berros hilariantes que dão. É fim de semana e o calor húmido nocturno mexe-lhes com as hormonas. Estão à porta do “Christopher Golden Wok”, buraco de higiene duvidosa, onde o chef da Singapura alimenta pela noite fora as aves raras da Christopher Street. As vozes masculinas efeminizadas roçam-se e seduzem-se umas às outras mesmo ao lado da digna St. Veronica’s Church...

O pequeno almoço é igual ao português - acrescentado o sumo de laranja Tropicana com “extra polpe” que é uma delicia, ao contrário dos insípidos Special K americanos (são feitos de arroz em vez de trigo, como são os portugueses).
Fiz questão de ir mantendo as minhas reservas de café português durante estes tempos por cá. Não que não se arranje uma bica razoável na cidade (já cá chegaram os expressos italianos) mas para o pequeno almoço faço questão de ter na chávena o lote “Bar” da Cafélia, na Avenida de Roma. Dispenso 10 minutos para os cereais + café e outros 30 no viciante New York Times que a partir de 4ª feira vai ficando ainda mais interessante: Dining Out, Thursdays Stlyles, Weekend Arts, Arts and Leisure e Travel - quarta, quinta, sexta, sábado e domingo, respectivamente.

Se é dia útil às 10 estou na Engel Entertainment a disputar as missões da produtora com os outros estagiários de 20 aninhos – quando não se tem visto de trabalho é assim…
O estágio acaba às 6 da tarde e até entrar no metro enfrento a clientela desenfreada das promoções permanentes do Macy’s e das lojas popularuchas na 34th Street.
Ai o metro no Verão… que suplício de calor.
Habituei-me à Christopher Street. Tenho que atravessá-la no meu percurso entre casa e trabalho. As lojas de indecências e os gays nas montras dos bares em conversas de arco-íris já não me impressionam. Inclusivamente já reconheço as caras de alguns. Parecem-se todos com macho men mas não são.
É no fim da rua que fica o meu Nails Spa - o Blue Sky Nails Salon tornou-se programa certo no meu regresso a casa, semana sim, semana não.

Fiquei fanática das unhas pintadas. Se era coisa rara em Portugal em Nova Iorque é ritual certo.
“How are you today?”, “Please, choose the color” ouço mal entro e entrego-me incondicionalmente às mãozinhas de uma asiática. É óptimo - em 20 minutos estou despachada com as mãos massajadas, com a unha colorida, seca (bem-ditos secadores!) e perfeita - o serviço é pago a meio, antes do verniz ser colocado, não vá haver risco de se borrar a pintura. Se fosse empreendedora era negócio que levaria para Portugal.

É hora de ponta no prédio. A partir das 6h começam a chegar os mexicanos com as “deliveries” para os nossos vizinhos. Até ao meu quinto andar, pelo cheiro no elevador, tento adivinhar o que vai ser o jantar de fulano ou sicrano – pizza, chinesices e outros que tais são os aromas mais frequentes. Devemos ser dos poucos no prédio (10 andares com 60 apartamentos cada um) que cozinha quatro a cinco jantares por semana. “A energia da cidade está na rua” alguém nos disse ainda não estavamos cá a viver. Os nova-iorquinos perdem pouco tempo em casa – as horas de trabalho são intensas, um copo com amigos é frequente e se não ficam para jantar encomendam comida chinesa, vietnamita ou tailandesa que inclui pratos e talheres de plástico para evitar a chatice de lavar loiça.

Se é inverno os filmes do Netflix salvam-me do bombardeamento de reality shows na televisão americana: Project Runway, Make Me a Super Model, Miss Rap Supreme, Real House Wives, Top Chef, Step it Up, Shear Genius, Bed Girls Club (confesso que vi alguns deles - mas sempre com um certo peso na consciência…). Escolho os filmes pela internet e os DVDs (três de cada vez) chegam pelo correio sem eu ter a chatice de sair de casa. Os clássicos estão lá todos, documentários e as ultimas novidades - até o dinossauro do Manoel de Oliveira posso ver em casa.

Entretanto jantámos frango biológico estufado com gengibre e courgettes, acompanhado de couscous. O frango e o couscous são do Fresh Direct, um serviço on-line que entrega mantimentos em casa. As verduras são do Chelsea Market.
Salvam-nos dos carregos estes serviços da internet – para quê ter carro e pagar centenas de dólares por mês por um parque na cidade?
Já o Chelsea Market salva-me dos preços exagerados do D’Agostino, o super-mercado na esquina do prédio.
Faço algum esforço para cozinhar diariamente. A tarefa flui melhor se tiver uma Budweiser a acompanhar-me. Gostava de ter vinho português mas é luxo a que nos permitimos em ocasiões mais especiais.
Até estava bom o jantar.

Já passa da meia noite.

Que saudades que eu vou ter disto tudo.

GOING AROUND