Friday, May 11, 2007



Diário Aventura Solidária AMI
Senegal, 13 - 21 de Abril 2007


Dia 21 de Abril - último dia

O mercado de Dakar tem outra sofisticação, está claro. Trata-se de um edifício colonial ainda resquício do domínio francês de tempos idos. O nosso “protector” Malick levou-nos até lá.
O Malick é um homem sereno e de sorriso sincero que nos faz sentir bem. Inteligente e “sábio” pela idade que já tem (é-se considerado “sábio” a partir dos 40 anos, acompanhou-nos sempre ao longo destes dias. Conversa pausadamente quando nos explica e conta as belezas e angústias do Senegal.
Foi ele quem contactou a AMI para que esta chegasse até ao Senegal.

A meio da manhã apanhámos um ferry para Gorée, uma ilha que fica no largo da costa do Senegal, em frente a Dakar.
Também aqui a AMI tem uma mãozinha! Em 2005 recuperou uma capela, ainda marca de uma feitoria fundada pelos portugueses, no século XV.
Mas a razão da visita não era essa. Gorée, em 1978, foi classificada como Património da Humanidade e, infelizmente, é considerada símbolo da exploração humana.
Entre os séculos XV e XIX foi um centro de comércio de escravos, que depois da estadia dos portugueses, foi explorado por holandeses, ingleses e franceses.

Fizemos um passeio por entre as casas coloniais até à casa-museu dos escravos, a que resta em pé da daquela exploração na ilha.
Construída em 1776 pelos holandeses, a casa aprisionava entre 150 e 200 nativos de África que eram acorrentados e mantidos em celas por longos períodos, até que eram comprados e levados para a América.
A visita à casa é tudo menos agradável. É inevitável imaginar o que ali se passava, e por mais remota que seja a brutalidade, enquanto portugueses, é impossível não sentirmos alguma vergonha.

Deambulámos pelas ruas de Gorée. É fácil dar-se a volta à ilha pela sua pequena dimensão. As ruas são simpáticas e coloridas. Percorremos os caminhos envoltos em degradação e nobreza. As casas são elegantes mas muitas não estão conservadas. Não deixa de ter o seu charme.

Queimávamos os últimos cartuchos com conversas de fim de luz.
Afeiçoáramo-nos uns aos outros, e pela intensidade da missão era impossível não existir harmonia entre todos.
Pelo destino em si, era pouco provável que a primeira viagem piloto não corresse bem. Mas a disponibilidade da equipa e a participação das pessoas no projecto tornaram esta missão ainda mais inesquecível.

O nosso trabalho de voluntariado foi a grande experiência – é formidável contribuir e deixar alguma coisa feita para pessoas que precisam.
Nit Nit Ay Garaban - O homem é o remédio do homem.

Nessa noite regressámos a Lisboa.

Dia 20 de Abril


Tomámos um pequeno-almoço saudoso em Réfane. A nossa estadia na aldeia estava terminada. Às 9h00 partimos com destino ao Lago Rosa. Deve-se este nome ao tom rosáceo da água – a presença de microrganismos e a forte concentração de sal conferem-lhe a cor rosa, que dependendo dos raios de sol é mais ou menos intensa. Na zona, para além do turismo, a população dedica-se à extracção do sal. A paisagem não podia ser mais curiosa e conforme nos aproximávamos da zona de extracção, ía ficando mais insólita. Em pirogas, os homens arrancam o sal do fundo de águas rosadas e as mulheres, vagarosamente, fazem o percurso entre as embarcações e a margem para recolher e depositar o mineral. São extraídos 380 gramas de sal por cada litro de água. Quem não comprara lembranças para Lisboa pôde fazê-lo ali. Os vendedores de artesanato assediaram-nos de tal forma que foi difícil resistir e ficar de mãos vazias! Almoçámos uma Yassa, mas nada que se parecesse com as iguarias da nossa Djor… Em compensação, desforrámo-nos da abstinência alcoólica – bebemos cerveja ao fim de sete dias!!! A meio da tarde zarpámos para Dakar. Da paz do campo fomos para o inferno da cidade… O trânsito da capital é mesmo caótico. As estradas até podem existir, o que não significa que o “senhor que se segue” respeite a ordem. Vale tudo: esquerda, direita, passeios de terra batida… Chega mais rápido quem for mais hábil. Em Dakar visitámos Yoff. Este bairro da capital acolhe um centro de saúde construído com a ajuda da AMI, em parceria com a APROSOR, Association pour la Promotion Sociale en Milieu Rural et Urbain, ONG que o Malick dirige. Sentimos mais a pobreza na cidade e apercebemo-nos de que as pessoas têm mais dificuldade em remediá-la. Valham a AMI e a APROSOR à população local. A praia de Yoff é maravilhosa. Outrora destino de Verão de franceses, está hoje transformada em centro piscatório e mercado de peixe fresco e seco. Foi estranho passear pela praia. Nós associamos a praia a lazer, descanso, sol e pureza, mas ali era o contrário… A praia é local de trabalho, comércio e depósito de lixo. Contudo não deixa de ter uma certa beleza desconcertante.


Dia 19 de Abril

Aqui a terra tem um preço irrisório. As palhotas ou casas de pobre cimento crescem ao sabor da vontade da gente de Réfane. Urbanismo e saneamento básico são coisas que não existem.
Por isso sentimos uma certa tristeza quando percorremos as ruas de terra da aldeia para chegarmos ao CPMR. Os plásticos caem onde lhes apetece, as embalagens rolam para onde calha e os montes de desperdícios vão-se formando sem a ajuda da mão do homem.
A bicharada anda por ali – cabras, galos e galinhas respigam o que de comestível resta na rua.

Nesta manhã inaugurámos o Centro de Promoção da Mulher Rural. Foi fantástico ver o quanto as mulheres apreciaram o trabalho feito. Foi reconfortante apercebermo-nos da mais valia que lhes levámos. E que nos custou tão pouco…
A quantidade de crianças é enorme. Também aqui nascem pelo menos 30 bebés por mês. Pode-se imaginar a animação desta terra!
Pela tarde, um grupo de alunos preparou um sarau teatral para a nossa despedida. A peça de teatro foi encenada em francês, só assim perceptível por nós.
Ouvimos a história de duas meias-irmãs. Uma boa aluna e outra menos prudente, mas mais protegida pela actual mulher do pai comum. A boa aluna recebe uma bolsa de estudo e a outra engravida e tem que abandonar os estudos.
É engraçado imaginar que argumento escreveriam os alunos de uma escola de Lisboa e compará-lo ao que aqui assistimos. Que pontos comuns haveria?



Dia 18 de Abril

A manhã no CPMR foi mais ligeira. Só faltava pintar as portas e janelas enquanto o Antoine e dois assistentes rematavam o chão da casa.
Quarta-feira é dia de mercado em Réfane o que animou bastante as nossas andanças pela aldeia.
Terminada a pintura fomos assistir à preparação do prato nacional do Senegal, a Thiéboudienne, que significa arroz de peixe. Para além destes ingredientes leva beringela, pepino, pimento, batata, inhame, cenoura, tomate, limão, peixe e marisco seco.
O Cozido à Portuguesa tem algo de semelhante embora não tenha nem metade do gosto desta iguaria. O concentrado de tomate, o sabor do limão e as especiarias que condimentam a Thiéboudienne dão um gosto quente e forte, muito africano.

O calor seco desta África não ajudou muito a ultrapassar a preguiça pós almoço. Com algum custo arrastámo-nos para dentro da carrinha para irmos até Touba.
Aqui se encontra a maior mesquita do Senegal, o principal santuário para os seguidores do Muridismo a vertente do Islão que predomina no País. O Muridismo representa a confraria principal e originária do Senegal, mais especificamente do povo Wolof.
A viagem seria de duas horas mas pelo caminho parámos em Ndem, uma aldeia de interior que explora um centro de comércio justo.

Não nos sentimos muito seduzidos pelos objectos ditos “justos”. O feitiço virou-se contra o feiticeiro – os preços das coisas não eram os mais justos aos nossos olhos.
Comprámos umas pulseiras coloridas feitas pelas raparigas da escola. Cada uma valia uma refeição – 1 euro ou 600 francos senegaleses.

Percorríamos um caminho pelo interior do Senegal bordeado de paisagem árida e rural.
Não percebíamos muito bem se chegava a ser bela dada a desolação dos campos. Extensões e extensões de terra seca, salpicadas de quando em vez de algumas árvores e muitas casas em meio de construção.
Só quando passamos por zonas de baobás (ou embondeiros) somos encantados pelo lirismo e expressão destas árvores. A história do Principezinho ajuda-nos a atribuir-lhe uma certa magia mas a verdade é que o seu porte imponente e milenar confere-lhe uma característica solene, se é que isso é possível numa árvore…
Mas bom, por alguma razão o baobá é o símbolo nacional do Senegal.

A cidade de Touba está localizada no centro do Senegal. Em Árabe, “tûbâ” significa felicidade, bem-aventurança ou beatitude.
Para os seguidores do Muridismo, Touba é um lugar sagrado. Estão proibidas na cidade actividades consideradas ilícitas e frívolas, como beber álcool, fumar, jogar jogos, tocar música e dançar.
A mesquita da cidade, completada em 1963, atrai cerca de 2 milhões de pessoas aquando da peregrinação “Grand Magal".

Para visitarmos a mesquita tivemos que mascarar as nossas roupas ocidentais. Os homens sabiam de antemão que não podiam usar calções, mas as voluntárias, embora prevenidas com lenços na cabeça, tiveram que disfarçar as calças que vestiam.
A visita à mesquita não foi muito proveitosa. Quando alguém tirava uma fotografia um zelador de Touba caiu-nos em cima… Para que não houvesse complicações, fomo-nos embora. Estava vista apesar do incidente a meio do passeio.



Dia 17 de Abril

As alvoradas vão sendo cada vez mais deliciosas. O vento matinal e as conversas das crianças no recreio da escola acordam-nos para outro dia de trabalho. Falta o amarelo final na fachada do centro.

Estamos especialmente bem dispostos. A manhã está fresca, e a sensação de ver o trabalho a ser cumprido dá-nos um prazer especial.
Participarmos nesta primeira aventura solidária ajuda-nos a reduzir o nosso estar às coisas mais essenciais – vivermos em harmonia com os outros, participarmos na vida dos outros e contribuir com algo nosso.
As condições da estadia são simples mas apesar da ausência de luxos, nada nos falta. Viver em comunidade – somos 12 a partir de hoje com a chegada do Fernando Nobre – durante 10 dias, torna-se um teste à nossa generosidade e tolerância.

O Fernando Nobre juntou-se ao grupo. Sendo esta a viagem piloto, impunha-se assistir ao sucesso do novo projecto.
A pretexto da chegada do Fernando e em forma de agradecimento pela ajuda da missão, as mulheres da aldeia ofereceram-nos fatos tradicionais costurados por elas. O nosso trabalho era-lhes dedicado: com o Centro de Promoção da Mulher Rural operacional as mulheres da aldeia poderão contribuir para o orçamento familiar.
Estávamos então vestidos a rigor para assistir às cerimónias da tarde.

A sombra das árvores da escola serve de abrigo aos saraus preparados pela população de Réfane, como se de um rossio se tratasse.
A dança que assistimos nessa tarde pedia a protecção na época das colheitas. Em jeito de teatro, as mulheres vão-se chegando ao centro, e através da sua dança sacralizam o seu pedido.
À volta, as restantes mulheres cantam enquanto o percussionista marca o ritmo.


Mais tarde protagonizaram os homens da aldeia com uma competição de Lamb.
Durante a luta assistimos a uma competição de beleza para além da força. Vemos passar corpos esbeltos e caras bem desenhadas, e damos conta do sentido estético do povo senegalês.
Fogem-nos, com certeza, alguns códigos destes rituais mas é evidente que a competição dá azo a outros jogos entre homens e mulheres. As raparigas aperaltam-se para envergonhadamente torcer pelo seu herói, e as mulheres envergam orgulhosamente fatos elaborados e de cores garridas.
Na cultura muçulmana não há contacto físico em público mas há outras formas de demonstrar a interesse pelo outro – a simples oferta de um lenço feminino ou a vitória de uma luta pode suscitar o enamoramento.

As celebrações continuaram à noite. Era o dia de anos de uma das aventureiras, de certo um dos aniversários mais originais da sua vida até então.
O António Sequeira conseguiu invadir o território feminino e fez uma tarte de limão como bolo de anos da Teresa. A Dior até então proibia a entrada de homens na cozinha!
O José Luís e a Luísa, da sua ida a Dakar, trouxeram ainda de sobremesa alguns bolos da pastelaria local.
Houve direito a espumante, embora estivéssemos num país muçulmano. Já não bebíamos álcool há bastantes dias…



Dia 16 de Abril

O despertar de hoje foi bem mais simpático. A passarada poisa cedo nas acácias que circundam a casa.
Todas as manhãs alguém da equipa fica incumbido de ir comprar o pão. Na padaria, que também é drogaria e mercearia, reparámos que os produtos se vendem em porções pequenas. Tudo é doseado e comprado só se necessário. Mais um sinal dos escassos recursos neste canto do mundo.

A manhã estava mais fresca o que nos ajudou a adiantar bastante a pintura no exterior do CPMR. O interior ficou acabado e demos a primeira de mão de amarelo nas paredes lá de fora.
Os miúdos já decoraram os nossos nomes. Chamam-nos vezes sem conta a pedir conversa!

Ainda demos uma ajudinha no almoço. Amanhámos e cortámos o peixe que foi frito para o almoço!
Aqui habituamo-nos a fazer tudo com poucos recursos e condições simples. Os alguidares são postos no chão, nas pernas põe-se um pano, e enquanto que com uma mão se enxotam as moscas, com a outra continua-se a tarefa. A cozinha é pequena e portanto as refeições começam a ser preparadas no alpendre.
A verdade é que não falta nem sabor aos cozinhados nem boa disposição à mesa!

Nada estava planeado para essa tarde e portanto cada aventureiro solidário gozou Réfane como bem lhe entendeu.
Uns foram fazer toalhas e fatos senegaleses, outros passearem de charrete e outros desapareceram por ali…



Dia 15 de Abril

Alvorada forçada às 06.00 da manhã. Um galo que andava em redor das nossas tendas fez questão de nos dar os bons dias – e assinou a sua sentença de morte.
A fila para a casa de banho chega à porta da rua… Somos 11 pessoas a partilhar uma casa de banho!
Reunimo-nos à mesa do pequeno-almoço. Sobre a mesa há baguetes gigantes de uma padaria local, compotas de alperce, ameixa e bissap (flor rosa escura da qual também se faz chá), manteiga e queijo “importados”, leite em pó e café português!


A pintura do CPMR é dirigida pelo Antoine. Este senegalês estava feliz com tanta gente para comandar.
Na primeira manhã demos a primeira de mão no interior do centro. O Antoine compôs o azul que ficara definido e distribuiu o pessoal pela sala.

A pintura do edifício causou sensação. Os mirones eram mais que muitos.
Mais á vontade, as crianças espreitavam pelas janelas. Num misto de Francês e Wolof, duas das línguas oficiais do Senegal, perguntavam pelos nossos nomes. Nós retribuíamos a pergunta e tentávamos memorizar os nomes dos miúdos. Impossível… Eram muitos e esquisitos demais para nos lembrarmos!

Acabámos de trabalhar por volta da 1h00. O calor começa a apertar e torna-se insuportável continuar.
Nessa tarde fomos a Reo-Mao, outra aldeia onde a AMI ajudou a fundar um centro de saúde.
Aqui nasce, em média, uma criança por dia.

Neste dia houve luta Lamb em Reo Mao. Esta luta tem como objectivo derrubar o adversário de modo a que este fique estendido de braços e pernas no chão. Os competidores sucedem-se segundo a altura e peso. As tácticas passam por agarrar braços, pernas e a tanga que vestem. Um dos tipos de luta permite ainda que se bata no adversário, excepto no coração e nariz.
Assistir à competição implica ver os rituais de fetiches e bênçãos do campo e lutadores. Pisam-se sementes, espalham-se águas benzidas e dança-se. Invoca-se a sorte e roga-se pelo azar do outro.
As cerimónias podem durar cerca de uma hora e meia. Os combates desde segundos a 15 minutos.
Nós estávamos espantados com a força daqueles corpos. Os músculos parecem esculpidos e “excesso de peso” é coisa que não se avista. Nesta terra não há vida sedentária…

É uma maravilha chegar a casa e sermos recebidos pela Dior. Hoje preparou-nos para o jantar o nosso galo despertador.
A calmaria reina nas noites de Réfane. A temperatura é amena e sabe-nos bem sentir na cara o vento que roça também nas árvores. Conversamos á luz das estrelas e como som de fundo temos os cantos de oração na mesquita.



Dia 14 de Abril



A partida atrasada para Réfane deveu-se a um choque traseiro na nossa camioneta, provavelmente resultado da condução “salve-se quem puder” tipicamente senegalesa. Partimos então. A estrada rudimentar que nos levava ao nosso destino entretinha-nos de mil maneiras – o trânsito empatava; abordavam-nos vendedores ambulantes de cajus, óculos de sol ditos “de marca” e cintos a imitar cabedal; pasmávamos com os autocarros em avançado estado de decomposição mas carregados de gente; e sorriamos com a publicidade ingénua do comércio local. Antes de chegar a Réfane visitámos o maior mercado do Senegal, Touba Toul, local onde talvez tenhamos sentido, pela primeira vez, o prazer da novidade: o que se vende, como se negocia e quem o faz. As bancas toscas feitas de paus e zinco acolhem os comerciantes, ora tímidos, ora curiosos da nossa presença. Vendem alimentos frescos e secos, panelas e caldeirões de ferro, tecidos tradicionais, cabaças, drogarias fora de prazo, sapatos em segunda mão, especiarias coloridas, cabras, bodes e burros … Chegámos a Réfane, aldeia situada na região de Thiés, a duas horas de Dakar. Ficaríamos aqui durante seis dias para ajudarmos na limpeza e pintura do Centro de Promoção da Mulher Rural Luísa Nemésio. As boas vindas foram desde logo dadas com um almoço senegalês cozinhado pela Dior, a nossa chef! Esta risonha mulher ofereceu-nos Yassa, prato feito de galinha ou peixe, com estufado de cebola e acompanhado de arroz, originário da Casamança, outra região do Senegal. Fomos cumprimentar a população que nos saudou com danças. A música e dança estão sempre presentes e fazem parte da vida quotidiana do Senegal. Têm sobretudo um carácter sagrado e podem celebrar um nascimento, um casamento, a morte ou as colheitas. As mulheres sucediam-se numa dança frenética e ritmada ao som de instrumentos de percussão. Entravam primeiro as mais velhas e só depois as mais novas. A beleza dos fatos das mulheres que dançavam, feitos de tecidos Wax (indústria têxtil senegalesa), distraíam os nossos olhos com tanta cor. Não havia um tecido repetido. Enquanto espantávamos com a dança, mil olhos brilhantes observavam-nos com curiosidade. Não é todos os dias que Réfane recebe visitas. O chefe da aldeia, a representante das mulheres do Centro de Promoção da Mulher Rural (CPMR) e o representante dos jovens multiplicaram-se em palavras generosas de boas-vindas ao grupo e à AMI. Fomos visitar o Centro e ver que trabalhos nos esperavam nos próximos dias. Ainda antes do jantar fizemos o reconhecimento de parte da aldeia. Nesta terra é impossível sentirmo-nos sozinhos. Há sempre gente na próxima esquina que nos saúda ou crianças que brincam em grupo pelas ruas. Regressámos já de noite ao nosso “hotel de mil estrelas”, expressão utilizada pelo Fernando Nobre aquando das suas estadias ao relento durante as missões. Não há céu mais estrelado do que o de África…



Nit Nit Ay Garaban - O homem é o remédio do homem.



Dia 13 de Abril

Já no aeroporto de Lisboa reparámos na animação das cores senegalesas – desfilavam já alguns bousbous (trajes tradicionais) ao lado de vestes europeias.
Entrámos no avião com alguns sorrisos curiosos causados pela bagagem de mão de alguns passageiros senegaleses: rádios, sacos de mercadorias, malas Louis Vuitton de contrafacção que atolavam as cabines e invadiam o lugar do vizinho do lado...
Aterrámos em Dakar onde dormimos a primeira noite.